segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

FALANDO DE FILOSOFIA

        A Filosofia é mais do que a simples expressão conceitual das diferentes visões de mundo, se, além de seu caráter ideológico, traz também certas verdades fundamentais concernentes às relações dos homens com os outros homens e com o universo, então estas verdades devem encontrar-se na própria base das ciências humanas e notadamente de seus métodos.
    Toda filosofia é, entre outras coisas, uma filosofia da consciência e do espírito (sem por isso ser necessariamente idealista). As filosofias da natureza, desde o Renascimento até Schelling e Hegel, tentaram introduzir o espírito e a consciência no universo físico. O desenvolvimento das ciências físico-químicas parece ter provado o erro dessa pretensão. Esse desenvolvimento se fez em detrimento da filosofia da natureza que deveu assim ceder terreno. Desta experiência histórica avultou uma idéia, válida para o mundo físico até uma nova ordem: um domínio de conhecimento incorpora-se à ciência positiva na medida em que se liberta de toda a ingerência filosófica.
     Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de utilidade imediata. Por isso, ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à realidade. Se, portanto, deixarmos de lado, por enquanto, os objetos com os quais a Filosofia se ocupa, veremos que a atitude filosófica possui algumas características que são as mesmas, independentemente do conteúdo investigado. 
   A Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. A Filosofia se interessa por aquele instante em que a realidade natural (o mundo das coisas) e a histórica (o mundo dos homens) tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis e enigmáticas, quando o senso comum já não sabe o que pensar e dizer e as ciências e as artes ainda não sabem o que pensar e dizer.
      A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico.
     Não é sociologia nem psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos da sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é história, mas interpretação do sentido dos acontecimentos enquanto inseridos no tempo e compreensão do que seja o próprio tempo. Conhecimento do conhecimento e da ação humanos, conhecimento da transformação temporal dos princípios do saber e do agir, conhecimento da mudança das formas do real ou dos seres, a Filosofia sabe que está na História e que possui uma história.

MAGNO PESSOA

Biografia de Michel Foucault: saber e poder

Michel Foucault (1926-1984) foi um filosofo Francês, um dos maiores pensadores contemporâneos. Possui grande influência junto ao meio intelectual no ocidente.

Michel Foucault nasceu em Poitiers, uma pequena cidade francesa. Diplomou-se em psicologia e filosofia. Ensinou filosofia em Universidades francesas e obteve a cátedra com o tema "história dos sistemas de pensamento" no Collège de France.

Aos 28 anos, publicou o seu primeiro livro, "Doença mental e personalidade", (1954). Mas o seu grande clássico foi “História da Loucura na Idade Média” (1961), escrito para a obtenção de seu doutorado na Sorbonne. Nessa última obra, Foucault analisou o desprezo que as pessoas tinham no século 19 pelos doentes mentais. Publicou ainda: “Nascimento da Clínica”, (1966), “As Palavras e as Coisas” e “Arqueologia do Saber “(1969). Ainda deixou inacabado o livro “História da Sexualidade”.

Logo após ser reconhecido no começo dos anos 60 como um dos mais importantes pensadores franceses, Foucault conheceu Daniel Defert, um estudante de filosofia e ativista político de esquerda. Gay e dez anos mais novo, Defert se tornaria o amante de Foucault pelas próximas duas décadas. Naquele momento, o trabalho de pesquisa documental de Foucault renderia o livro “O nascimento da clínica: uma arqueologia da percepção médica”. Mostrou nessa obra como no início do século 19 a medicina clássica, que buscava eliminar a doença, deu lugar à medicina clínica, cujo foco é trazer o paciente “de volta ao ‘normal’”. Na sequência, ele lançaria outra obra essencial: “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas”. Nesse trabalho, Foucault desenvolveu seu conceito de episteme, que é muito semelhante ao que o historiador das ciências Thomas Kuhn desenvolvia ao mesmo tempo nos Estados Unidos com o nome de “paradigma”. Assim, para ambos, o nosso modo de pensar é sempre determinado por uma episteme ou um paradigma.

Em 1964, Defert foi para a Tunísia dar aulas – uma alternativa ao serviço militar para o qual fora convocado. Foucault foi junto como professor visitante na Universidade de Túnis. No período em que está na Tunísia, Foucault se envolve no ativismo político ao se engajar nas manifestações contra o regime local. Enquanto estava por lá, Foucault acaba acompanhando desesperadamente de longe os eventos do maio de 1968 em Paris. O ativismo de Foucault ao lado dos jovens populariza sua filosofia como um instrumento político. Ao voltar a Paris, Foucault assume a moderna e experimental Universidade de Vincennes e é indicado para o consagrado Collège de France.
Fortemente influenciado por Nietzshe, Foucault afirma que o conhecimento sempre tem um propósito: se caracteriza pela vontade de dominar ou apropriar, além disso, ele é buscado por sua utilidade, é potente e instável. Para ele, a vontade de buscar a verdade não passa de uma versão deturpada da vontade de poder central que Nietzsche considerava o impulso humano primordial. Foucault concluiu que saber e poder estavam intrinsecamente ligados. Mas, diferentemente do poder residir nos indivíduos, conforme concebia Nietzsche em sua concepção do “super-homem”, para Foucault o mais importante aspecto do poder estava nas relações sociais. As principais ideias dele sobre esse tema aparecem na obra “A Arqueologia do Saber”, lançada em 1969.

Na vida pessoal, Foucault tornara-se um anfitrião excepcional, com suas habilidades culinárias e jantares elegantes para convidados como Jean Genet. Transformava-se também numa exótica criatura da noite, vestido em couro e visitando bares sadomasoquistas. Em suas conferências mundo afora, descobriu os prazeres do estilo de vida gay em San Francisco (EUA). Seu ativismo político tornou-se mais intenso o que o fez se interessar pelos sistemas prisionais. O resultado disso foi “Vigiar e punir: história da violência nas prisões”, um livro cujo tema ele chamou de “microfísica do poder” ao abordar instituições como escolas, fábricas, prisões e hospitais.

Em meados dos anos 70, Foucault inicia uma pretensiosa pesquisa para escrever a história da sexualidade. A obra tomaria anos de dedicação e formaria um calhamaço de três volumes que seriam finalizados somente em 1984. Pouco após finalizar os manuscritos, em junho daquele ano ele sofreu um colapso e foi internado. Desde o começo dos anos 80, Foucault vinha sofrendo uma sequência de doenças. Após o colapso, foi diagnosticado que ele estava com AIDS. Em 25 de junho de 1984, Michel Foucault morreu.

Retirado http://www.e-biografias.net/michel_foucault/ 17/05/2012

O Construtivismo Genético de Jean Piaget: segundo Emilia Ferreiro

FERREIRO, Emília. Atualidades de Jean Piaget. Tradução de Ernani Rosa, Supervisão, consultoria e revisão técnica de Fernando Becker. 1ª edição. [Porto Alegre] Rio Grande do Sul: Artmed, 2001.

                 No ano de 1955, em genebra, é criado o Centro Internacional de Epistemologia genética onde se iria iniciar uma verdadeira revolução no campo da filosofia, criada por um doutor em biologia que se atrevia a introduzir idéias insólidas no ramo da epistemologia. O fundador do centro Jean Piaget, em busca de uma teoria que pudesse conduzir a epistemologia a ser considerada como uma ciência dissociada da filosofia, termina por buscar conhecimentos e métodos que o conduziram ao estudo da psicologia e, em especial a psicologia experimental, se tornando conhecido como o psicólogo da infância. Ele foi o homem que descobriu em detalhes os estágios do desenvolvimento da inteligência na criança. Suas idéias provocaram escândalos comparáveis as idéias de Freud quando se atreve a falar da sexualidade infantil. Porque tanto Piaget quanto Freud, destrói idéias e tabus: Freud, mostrando que o desenvolvimento da sexualidade precede, de longe, a adolescência; Piaget, mostrando que o desenvolvimento do pensamento lógico precede a idade da razão e, inclusive, a linguagem e assinalando que há uma perfeita continuidade entre a criança que constrói seu mundo e o cientista que constrói uma teoria à cerca desse mundo. Freud mostrava a criança perversa e polimorfa, Piaget, a criança teorizante da realidade. As primeiras idéias de Piaget vão contra a idéia puritana da inocência infantil e contra, o preconceito adulto, cristalizado na instituição escolar, que pretende que a criança chega a se tornar um ser pensante graças aos adultos que a ensinam. Em suas obras ele começa a distinguir seu pensamento psicológico do pensamento filosófico. Estas distinções o transforma no homem dos estágios, pois, mesmo sendo conhecido como psicólogo da infância, sua intenção era explicar o adulto. “Sua fama como psicólogo eclipsou suas contribuições epistemológicas, embora a psicologia que ele desenvolveu fosse apenas o passo prévio necessário para construir uma epistemologia”. Por estes motivos e pelo fato de envolver conhecimentos biológicos suas teorias são conhecidas como Teorias Psicogenéticas.
             Estas teorias psicogenéticas de Jean Piaget foram desenvolvidas durante toda sua vida. Por este motivo citaremos, algumas delas, por meio de ciclos que poderão facilitar a compreensão e a visualização do espaço tempo em que foram sendo divulgadas. Assim, no primeiro ciclo da obra de Piaget (1923-1932), se pode dizer que ele acreditava estudar o pensamento através da linguagem e desenvolve a idéia de um período egocêntrico do pensamento, refletido na utilização que a criança faz da linguagem, com sua impossibilidade de diálogo verdadeiro, na medida em que não é capaz de assumir o ponto de vista de outros. Essa é a noção de egocentrismo infantil. Piaget, bastante criticado, obteve apoio apenas de Claparéde e do psicólogo soviético Vigotsky, que nunca chegou a se encontrar com Piaget. O segundo ciclo da obra de Piaget (1936-1946) têm início através de estudos com os próprios filhos. Nesta época Piaget estuda as formas da inteligência que precede a linguagem. Ele fundamenta sua concepção básica: O pensamento procede da ação e as estruturas do pensamento expressam apenas as características mais gerais da organização das ações. Estas afirmações foram enunciadas por Piaget após observações e experimentos rigorosos. Suas hipóteses são aqui não de natureza psicológica mais sim epistemológica. O período (1941-1975), que caracteriza o terceiro ciclo, é considerado o miolo da obra Piagetiana conhecida por “Organização das Categorias Lógico-matemáticas e físicas” na criança entre 3-4 anos até a adolescência. Pode-se dizer que esse ciclo se constitui em por a prova experimental as categorias Kantianas. Piaget responde aos a priori de Kant com a prova dos fatos: as categorias imutáveis da razão são nada mais que produto de uma construção psicogenética; o intemporal é o produto da história. Neste ciclo Piaget rever várias concepções psicológicas como, por exemplo, a imagem mental e a memória, ele as faz serem reconsideradas na teoria operatória do desenvolvimento da inteligência mostrando que ela, a inteligência, é um desenvolvimento intelectual que reverte sobre as funções psicológicas, modificando-as. Ainda neste ciclo, em 1942, Piaget relata sobre os agrupamentos da lógica e sobre a reversibilidade do pensamento. Em 1949 ele anuncia um tratado de lógica, ensaio de logística operatória, com as operações ternárias da lógica bivalente das proposições, Piaget cria uma estrutura lógica que serve de modelo para a organização das operações intelectuais própria do período que ele chamou de operações concretas entre 6-7 anos e 10-11 anos. A culminação de sua obra surge em 1950, o de epistemologia genética. Neste período Piaget juntara dados psicológicos para uma nova concepção da epistemologia (uma concepção científica não puramente especulativa). Com os estudos de psicologia genética em 1975, Piaget realiza trabalhos teóricos e experimentais que foram resultados de obras escritas com vários cientistas da área de lógica e da temática. Ele não era pedagogo nem escreveu obras sobre pedagogia, mas os pedagogos os citam com freqüência como um dos autores contemporâneo que revolucionaram as idéias sobre educação. Piaget não era um pedagogo, pois, suas idéias sobre educação ocorreram mais por implicação do que por preocupação do problema. Em suas obras epistemológicas ela ataca os filósofos, principalmente, os franceses. Em seu livro Biologiay conocimiento Piaget quis desenvolver uma epistemologia biológica para unir o problema do conhecimento ao da organização biológica. A mais importante das obras de Piaget foi à invocação de um fator de equilibração que permitiu explicar o progresso cognitivo, a passagem de um estágio para o seguinte. Essa reformulação de sua obra propõe uma releitura das descobertas fundamentais a partir de uma perspectiva nova. É o pensamento dialético de Piaget.  Aqui seu modelo de equilibração diz que todo esquema de funcionamento necessita do objeto assimilável para sua própria conservação; um objeto não assimilável constitui uma perturbação; os mecanismos de regulação atuam tentando compensar a perturbação. O modo mais efetivo de compensação é precisamente aquele que consegue tornar assimilável o elemento inicialmente perturbador, o que exige uma modificação do próprio esquema, e a realização de uma equilibração. Fica claro então que o progresso de um estado para o próximo é concebido como resultado necessário do processo histórico de interação entre o sujeito e o objeto e não como o resultado inevitável de algo programável no sujeito.
                A preocupação de Piaget com a origem dos conceitos matemáticos, do ponto de vista genético, assim como sua análise epistemológica das idéias básicas das matemáticas o levou a uma de suas descobertas mais extraordinárias e talvez a mais desconcertante. A descoberta consiste em ter encontrado três tipos de estruturas elementares que servem de ponto de origem, na gênese psicológica, a construção de todos os conceitos matemáticos ulteriores. Estas estruturas iniciais, que são as mais elementares, aparecem como representações de estruturas algébricas estruturadas de ordem e estruturas topológicas. O extraordinário é que esses três tipos de estruturas coincidem com as três estruturas mães ou estruturas básicas de toda a matemática, encontrada pela escola do BOURBAKI.  As estruturas fundamentais da matemática coincidem com as estruturas mais elementares (do ponto de vista genético). Segundo Piaget a experiência lógico-matemática não procederia por abstração das propriedades do objeto, mas por abstração das propriedades que a ação introduz nos objetos. (para comprovar se um objeto é pesado ou leve, o sujeito deve executar certas ações, porém a propriedade que comprova ou que aprende sobre o objeto não é criado pela ação, ao contrário, as propriedades que comprova, não pertenciam ao objeto antes que a ação do sujeito as introduzisse. Numa conversa entre Piaget e um grupo de filósofo soviético na academia de ciência de Moscou Kedrov pergunta a Piaget “você acha que o objeto existe antes do conhecimento?” Piaget responde “como psicólogo não sei, porque só conheço o objeto atuando sobre ele, e não posso afirmar nada sobre ele antes dessa ação”. Rubinstein pergunta “para nós, o objeto é uma parte do mundo. Você acha que o mundo existe antes do conhecimento?” Piaget responde “este é outro problema. Para atuar sobre o objeto é preciso de um organismo e esse organismo também faz parte do mundo. Então, acho que o mundo existe antes do conhecimento, nós não o recortamos em objetos particulares senão no curso de nossas ações e por interações entre o organismo e o meio”. Destas respostas o filósofo francês Lucien Goldman percebe que Piaget não era marxista. A síntese realizada por Piaget coloca-o na linha dos grandes pensadores dialéticos como Kant, Hegel e Marx. Seus pontos de coincidência com o materialismo dialético são notáveis, como, por exemplo, “ o homem é um ser que atua pelo mundo, o transformando. Mas transformando também a si mesmo no curso de suas interações”, o conhecimento é ação e procede da ação”. A ação aparece em Piaget como constitutivo de todo conhecimento e, não só, como verificadora de um conhecimento obtido por via sensorial. Em relação à gênese do conhecimento lógico-matemático foi uma contribuição para um problema mal resolvido pela filosofia marxista: o da dupla natureza – empírica e dedutiva – do pensamento matemático. A alternativa clássica – materialismo versus idealismo – Piaget opõe uma concepção segundo a qual o objeto não está dado no ponto de partida, mas se constrói a partir de um organismo que não é criado pelo sujeito, mas que é a condição mesma de sua existência; a evidencia racional não é produto direto da experiência nem uma forma a priori do espírito: é o resultado de um processo de requilibração sucessiva em virtude de um processo histórico e dialético; a objetividade não está dada no ponto de partida: é uma realização, uma conquista, não um impor-se do objeto sobre o sujeito, mas um equilíbrio entre ambos, que envolve um Maximo de atividade da parte do sujeito, um sujeito que é sempre ator e não um mero espectador. Piaget ao completar 80 anos nos proporcionou mais uma surpresa. Considera que o conhecimento é construção perpétua e nunca sistema fechado. Porque cada problema resolvido abre inúmeras novas questões que desconhecemos até então.                                     
                    Sabe-se que o senso comum considera que a aprendizagem é um processo dirigido de fora, pela ação dos adultos sobre a criança. Para Piaget, as explicações, na realidade apenas começa com essas considerações. Ele acrescenta que qualquer estímulo, para atuar como processo de aprendizagem, deve ser assimilado pelo organismo, pois, em nível orgânico-biológico, a assimilação designa a incorporação de elementos estranhos ao organismo, de objetos exteriores, que são reelaborados (modificados em função das estruturas orgânica que os assimilam), no entanto essa modificação não é material, não afeta a matéria própria do sujeito, mas sua função; e sua incorporação não será material: o objeto será incorporado aos esquemas de ação do sujeito. Desse modo, a assimilação designa a ação do sujeito sobre o objeto. Na teoria de Piaget um elemento antagônico a assimilação é a acomodação; ela designa ação de sentido contrário, do objeto sobre o sujeito, a modificação que o sujeito experimenta em virtude do objeto. Para ele esse movimento de assimilação e acomodação, com doses variáveis entre um e outro, é denominado adaptação. Isso significa que uma criança não pode chegar a conhecer se não aqueles objetos que é capaz de assimilar a esquemas anteriores. Esses esquemas são, no começo do desenvolvimento, esquema de ação elementares, que irão enriquecendo-se e complexificando-se à medida que o conhecimento prossegue, proporcionando, assim, novos instrumentos de assimilação. Essa progressão ocorre de tal forma que são esses esquemas de ação que proporcionam uma primeira classificação do mundo. Os processos elementares de classificação estão, portanto, em germe desde os atos mais primitivos. O que não significa que toda lógica de classes não esteja pré-formada. Dessa forma verifica-se que as propriedades atribuídas aos objetos dependem somente da ação que o sujeito pode exercer sobre ele, sem que nada garanta ainda a permanência de suas qualidades fora dessa ação. Piaget afirma ainda que é somente nos primeiros anos de vida que se pode afirmar com fundamento que os objetos exteriores continuam existindo ainda que o sujeito não os veja nem atue sobre eles. Nos estudos sobre o objeto permanente e, a partir dele, é que só se pode falar especificamente na relação entre sujeito-objeto, já que o objeto diferenciou-se o suficiente do sujeito para adquirir uma permanência substancial que garante sua existência objetiva, independentemente de um contexto de ação; mas, correlativamente, o sujeito diferenciou-se o suficiente do objeto para começar a se situar a si mesmo entre eles, em um universo que irá organizando-se e objetivando-se paulatinamente. Assim para Piaget a inteligência é, antes de mais nada, adaptação, é a forma de equilíbrio para qual tende todas as estruturas, pois, é preciso buscar seu modo de formação nos mecanismos sensório-motores mais elementares. A comunidade funcional não exclui de forma alguma a diversidade nem tampouco a heterogeneidade das estruturas. Cada estrutura deve ser concebida como uma forma particular de equilíbrio. Essas estruturas devem ser consideradas como se sucedendo conforme uma lei de evolução tal que cada uma assegure um equilíbrio mais amplo e mais estável aos processos de intervenção já no seio da precedente. A inteligência não é mais do que um termo genérico que designa as formas superiores de organização ou de equilíbrio das estruturas cognitivas.
                    Diante do exposto se verifica que Piaget caracterizou a seguinte seqüência de desenvolvimento da inteligência: o primeiro estágio, que é o da inteligência sensório-motora, que se inicia desde o nascimento até os dois anos de vida, esta fase é o pensamento em ato, em ação; o estágio da inteligência representativa, o pré-operatório, onde a criança substitui, no pensamento, um objeto por uma representação simbólica, porém neste estágio a criança confunde as relações temporais com as relações espaciais. Isto ocorre em crianças entre dois e seis anos de idade; no período das operações concretas, que se estende dos sete aos dez ou onze anos de idade, a criança sofre uma mudança qualitativa, que lhe permite operar em pensamento, substituir as relações reais por ações virtuais, que garantam a conservação de certas invariantes, onde a percepção não nota se não variações e modificações. Há uma ação interiorizada. Pois para Piaget, a essência do pensamento está na ação. O pensamento origina-se na ação real e efetiva, no contato com as coisas e, quando se torna pensamento (ação interiorizada), não perderá sua qualidade de ser, antes de mais nada, uma ação. Neste contexto o pensamento é uma ação, portanto, é um ato solidário com outros atos que, constituem um sistema. Estes atos são reversíveis. Essa reversibilidade pode ser definida como a possibilidade de combinar toda operação com seu inverso, de forma que ambos se anulem. Os atos consistem em certas modificações dos objetos ou relativos a modificações do organismo. O pensamento é capaz de tornar reversível o irreversível e de compor os atos de forma a superarem as limitações da ação efetiva. Neste estágio a criança necessita da presença concreta dos objetos para poder raciocinar; no estágio das operações formais, a partir dos onze anos de idade, a criança é capaz de se desprender dos dados imediatos, de raciocinar não apenas sobre o real, e sim também de raciocinar sobre hipóteses, ou seja, sobre o possível. Com estas afirmações Piaget formulou, durante vários anos de sua vida, as teorias psicogenéticas.