A Lua é o “nosso”
satélite, um pouco a nossa segunda casa no espaço. É o segundo
objecto mais brilhante nos céus. As suas dimensões (diâmetro 3474
km - maior que Plutão), e composição (densidade 3.34 - da mesma
ordem que Marte) principalmente se comparadas com as da Terra,
permitem-nos considerá-la um planeta telúrico de pleno direito.
Figura 1 – A mais
famosa fotografia de uma pegada. Apolo 11.
Até há pouco tempo,
havia três teorias para a formação da Lua: a co-acreção, que
supunha ter-se a Lua formado ao mesmo tempo que a Terra a partir da
Nebulosa Protoplanetária Solar; a fissão, que supunha que a Lua se
separou de uma Terra ainda em fusão por efeito da rotação; a
captura, que supunha que a Lua era um pequeno planeta capturado pelo
campo gravitacional da Terra. Os dados mais recentes, obtidos pela
análise das rochas lunares, conduziram-nos à teoria hoje mais
geralmente aceite: a do impacto, que supõe ter a Terra chocado com
um objecto pelo menos tão grande como Marte e ter-se a Lua formado a
partir do material então ejectado da Terra.
Uma das características
mais notáveis desde sempre na Lua é apresentar fases (nova,
falcadas, quartos, gibosas e cheia) consoante o ângulo
Sol-Terra-Lua. Só no séc. XVI Galileu observou as mesmas fases em
Vénus, primeiro, e depois em Mercúrio, o que confirmou ser o
Sistema Solar heliocêntrico. Os planetas exteriores também
apresentam fases, mas só gibosas e cheia. O luar é, claro, a luz
solar reflectida na Lua, que nem é muito reflectora (albedo 0.12). O
albedo da Terra é muito maior (0.30) o que tem como consequência
que podemos por vezes ver a parte não iluminada da lua,
principalmente nas fases falcada até quarto: é a luz cendrada, ou
luz cinzenta, reflectida da Terra (Figura 7).
A sua proximidade da
Terra (em média 384 400 km) fez com que fosse o primeiro objecto da
exploração planetária. Foi o primeiro objecto extraterrestre onde
pousou uma sonda (a sonda soviética Luna 2, em 1959) e, claro, o
único a ter sido visitado por seres humanos (Figuras 1 e 2) (Apolo
11, em 1969, e mais cinco missões Apolo, até 1972). Foi também o
único objecto extraterrestre onde se colheram amostras de solos e
rochas (um total de 382 kg), depois trazidas para análise para a
Terra, onde, 30 anos depois, continuam a ser estudadas. Temos outras
amostras lunares - colhidas na Terra. Trata-se dos meteoritos
lunares, rochas lunares arrancadas aquando de grandes impactos na
Lua, tal como acontece com Marte.
Figura 2 – Imagens da
primeira expedição lunar: Apolo 11.
A Lua é o único planeta
que tem uma influência directa sobre a Terra, sensível à escala
humana (apesar do que possam pensar os fazedores de horóscopos...).
De facto, como se sabe, as marés são provocadas pela atracção da
Lua sobre os oceanos; menos conhecido é que a Terra sólida também
sofre o efeito de maré, com variações de altura que atingem
dezenas de centímetros.
A interacção
gravitacional Terra-Lua tem outras consequências interessantes: o
efeito de maré atrasa a rotação da Terra cerca de 1.5 milissegundo
por século e afasta a Lua da Terra cerca de 3.8 cm por ano; além
disso, é esta interacção gravitacional a responsável por a
rotação da Lua ser síncrona com a sua translacção.
Isto tem como
consequência que vemos sempre a mesma face do nosso satélite. Na
verdade, os complexos efeitos gravitacionais levam a que a Lua oscile
um pouco na sua órbita (movimento de libração), o que nos permite
ver cerca de 53% da sua superfície ao longo do ano.
A fraca gravidade lunar
levou a que a Lua perdesse toda a atmosfera. Apesar disso, dados
recentes das sondas Clementine e Lunar Prospector mostraram a
existência de gelo de água em crateras profundas próximas dos
pólos.
A quase total
inexistência de atmosfera, junto com a ausência actual de um campo
magnético dipolar (que já deve ter existido, dado que as rochas
lunares apresentam magnetizações remanescentes, embora não
ordenadas como na Terra e, em menor grau, em Marte), faz com que a
superfície lunar esteja exposta ao bombardeamento por objectos de
todas as dimensões, provenientes do exterior, desde as partículas
do vento solar, que por vezes interagem e são mesmo capturadas pelos
solos, até aos meteoritos que conferem à Lua o seu aspecto
característico.
A superfície da Lua não
é uniformemente craterizada. Há dois tipos de terrenos
predominantes: as “Terras Altas”, muito antigas (da ordem dos
4500 MA) e muito craterizadas, e os “Maria” (mares), mais jovens
(da ordem dos 3000 MA), que correspondem a enormes crateras de
impacto, posteriormente preenchidas por escoadas de lavas basálticas.
Note-se que as rochas terrestres com mais de 3000 MA são raríssimas,
pelo que a Lua nos dá informações preciosas sobre a história
geológica do Sistema Solar.
Figura 3 – Modelo da
estrutura interna da Lua. C. Hamilton.
Não existem Maria no
lado escondido da Lua. Isto deve-se provavelmente ao efeito
gravitacional da Terra, que fez do lado próximo da Lua a localização
preferencial para as erupções vulcânicas. A maior cratera do
Sistema Solar é Aitken, junto ao pólo sul lunar, com 2250 km de
diâmetro e 12 km de profundidade.
Tal como na Terra, a
estrutura interna da Lua não é uniforme. A crosta, de composição
essencialmente basáltica, pode ter espessuras entre os cerca de 107
km, a norte da cratera Korolev, no lado escondido, até ser quase
inexistente sob o Mare Crisium. Segue-se o manto que, ao contrário
do da Terra, é quase completamente sólido, e o núcleo metálico,
com cerca de 680 km de diâmetro.
O efeito gravitacional da
Terra sobre a Lua tem outra consequência interessante: o núcleo
lunar está descentrado cerca de 2 km no sentido da Terra.
Figura 4 – Paisagem
obtida pela equipa Apolo 17: a última visita humana a outro planeta,
1972.
Figura 5 – O limbo
lunar e o Sol. O halo brilhante que se observa é a luz solar
reflectida, mas a iluminação da superfície lunar é a luz
cendrada, reflectida da Terra. NASA.
Figura 6 – A Terra e a
Lua, em verdadeira grandeza. Imagem Pioneer.
Figura 7 – O lado
visível da Lua. NASA.
Figura 8 – O lado
oculto da Lua, nos infravermelhos. NASA.
Figura 9 – Mosaico
multiespectral da Lua, revela as diferentes composições químicas
das rochas lunares. NASA.
Figura 10 – Imagem
Surveyor 7 do solo lunar. NASA.
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