quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Falando da análise de Livros Didáticos de Matemática

        A Análise de Livros Didáticos de Matemática é tema frequente nos trabalhos em Educação Matemática. Por ser o livro didático um dos importantes componentes do cotidiano escolar em todos os níveis de ensino, acredita-se que sua análise pode contribuir para a compreensão de uma parte do complexo sistema escolar. No caso dos livros didáticos antigos, acredita-se que sua influência, devido à pouca disponibilidade de professores no início da expansão do ensino e à sua limitada formação, era ainda maior fazendo com que esses textos configurem-se como uma das raras fontes de pesquisa para a constituição de uma história da Educação Matemática.
    Reconhecida a devida importância dos Livros Didáticos de Matemática – e consequentemente dos trabalhos que abordam esse tema – e conscientes de que se constituem um dentre os diversos influenciadores do processo de educação matemática escolar, vemos a necessidade de que as análises de livros didáticos – pela sua importância – sejam foco de uma reflexão metodológica. Mesmo os trabalhos que, segundo nossas concepções, empreendem uma análise adequada – ao menos segundo alguns aspectos – não fazem ao menos a contento, uma reflexão metodológica sobre a análise empreendida. Limitam-se a métodos empíricos e, quando muito, vinculam-se aligeiradamente a teorias gerais de análise textual.
       No nosso entender, além da explicitação dos procedimentos, uma metodologia deve abarcar a definição de conceitos fundamentais e a reflexão e justificação da opção de um determinado conjunto de métodos em detrimento de outros.
       A Educação Matemática não é outra coisa senão aquilo que faz o educador matemático nomeando seu fazer de Educação Matemática. Trata-se de um movimento de constituição a partir de práticas que cria a consciência.
      A comunidade de educadores matemáticos como sendo formada por (...) professores de matemática que não pesquisam suas práticas e que não vêem com bons olhos os pesquisadores acadêmicos em educação matemática; pesquisadores acadêmicos em matemática e em educação que participam da formação desses professores, mas que não gostam muito de fazer isso e, se pudessem, não o fariam; de matemáticos que não pesquisam nem matemática e nem educação, mas que formam a gosto ou a contragosto, professores de matemática; pesquisadores matemáticos que gostariam de fazer educação matemática, mas que se acham considerados impedidos de fazer o que desejariam fazer; pedagogos e psicólogos, por alguns considerados matematicamente incultos, mas que realizam pesquisas em educação matemática; matemáticos conteudistas de última hora, moralizadores, arrogantes e inflexíveis, que se imaginam salvadores da pátria e legítimos proprietários e defensores do nível e do rigor da educação matemática da população; mas também por professores de matemática, pesquisadores em matemática, pesquisadores em educação matemática e outros profissionais que fazem e acreditam na educação matemática e tentam, de fato, levar a sério o que fazem. (MIGUEL: 2003, p.23)
    Nesse conjunto inscrevem-se, portanto, os professores de matemática, na sua diversidade, que ao ensinarem matemática produzem Educação Matemática e, por ser a atividade de ensino na instituição escolar muito peculiar aos nossos interesses, distinguindo da pesquisa acadêmica nomeando-a Educação Matemática Escolar.
     É por ser a Escola agente, produtora e transformadora que acreditamos, com a Hermenêutica, que seu processo deve ser estudado, sempre que possível, com vínculos diretos com o ambiente escolar. Também por isso concebemos a Instituição Escolar como agente ideológico que muitas vezes serve como “aparelho de estado”, mas que também, com grande maestria, o subverte, modificando a ordem social.
    Por ideologia, entendemos com Thompson (1995) o uso do sentido para a manutenção de relações assimétricas de poder que, ao impossibilitarem que grupos distintos se alternem no poder, cria relações de dominação e subordinação.
   Ideologia, de acordo com essa concepção, é, por natureza, hegemônica, no sentido de que ela, necessariamente, serve para estabelecer e sustentar relações de dominação e, com isso, serve para reproduzir a ordem social que favorece indivíduos e grupos dominantes. (THOMPSON: 1995, p.91).
    As ideologias são sistemas de crenças relativamente estáveis que, sendo crenças, não admitem reflexão – ou não requerem justificação – e que controlam a vida de grupos de pessoas. Esses sistemas ideológicos podem se interconectar produzindo sujeitos pertencentes a mais que um sistema ideológico.
   Não podemos, portanto, no corpo do trabalho, analisar nenhum livro didático de matemática específico, mas olhar para a teoria que esboçamos e para alguns trabalhos que tematizam a análise de livros didáticos, visando a discutir uma metodologia e propor procedimentos de análise possíveis e desejáveis para o estudo de livros didáticos de matemática.
 
Texto baseado no artigo de Geraldo Bergamo, professor do Curso de Licenciatura em Matemática da UNESP-Bauru,
 

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