As tendências pedagógicas são de extrema relevância para a Educação,
principalmente as mais recentes, pois contribuem para a condução de um
trabalho docente mais consciente, baseado nas demandas atuais da
clientela em questão. O conhecimento dessas tendências e perspectivas de
ensino por parte dos professores é fundamental para a realização de uma
prática docente realmente significativa, que tenha algum sentido para o
aluno, pois tais tendências objetivam nortear o trabalho do educador,
ajudando-o a responder a questões sobre as quais deve se estruturar todo
o processo de ensino, tais como: o que ensinar? Para quem? Como? Para
quê? Por quê?
E para que a prática pedagógica em sala de aula alcance seus
objetivos, o professor deve ter as respostas para essas questões, pois,
como defende Luckesi (1994), “a Pedagogia não pode ser bem entendida e
praticada na escola sem que se tenha alguma clareza do seu significado.
Isso nada mais é do que buscar o sentido da prática docente”.
Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo dos tempos por
diversos teóricos que se debruçaram sobre o tema, foram concebidas com
base nas visões desses pensadores em relação ao contexto histórico das
sociedades em que estavam inseridos, além de suas concepções de homem e
de mundo, tendo como principal objetivo nortear o trabalho docente,
modelando-o a partir das necessidades de ensino observadas no âmbito
social em que viviam.
Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pedagógicas por parte
dos professores, principalmente as mais recentes, torna-se de extrema
relevância, visto que possibilitam ao educador um aprofundamento maior
sobre os pressupostos e variáveis do processo de ensino-aprendizagem,
abrindo-lhe um leque de possibilidades de direcionamento do seu trabalho
a partir de suas convicções pessoais, profissionais, políticas e
sociais, contribuindo para a produção de uma prática docente
estruturada, significativa, esclarecedora e, principalmente,
interessante para os educandos.
A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar motivos para que o
aluno vá para os bancos escolares com satisfação, alegria. Existem
escolas esperançosas, com gente animada, mas existe um mal-estar geral
na maioria delas. Não acredito que isso seja trágico. Essa insatisfação
deve ser aproveitada para dar um salto. Se o mal-estar for trabalhado,
ele permite avanços. Se for aceito como fatalidade, ele torna a escola
um peso morto na história, que arrasta as pessoas e as impede de sonhar,
pensar e criar (Moacir Gadotti, em entrevista para a revista Nova Escola, edição de novembro/2000).
Desse modo, creio que seja essencial que todos os professores tenham
um conhecimento mais aprofundado das tendências pedagógicas, pois elas
foram concebidas para nortear as práticas pedagógicas. O educador deve
conhecê-las, principalmente as mais recentes, ainda que seja para
negá-las, mas de forma crítica e consciente, ou, quem sabe, para
utilizar os pontos positivos observados em cada uma delas para construir
uma base pedagógica própria, mas com coerência e propriedade.
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível “pensar que se
pode abrir um caminho a uma pedagogia atual; que venha fazer a síntese
do tradicional e do moderno: síntese e não confusão”. O importante é que
se busque tirar a venda dos olhos para enxergar, literalmente, o
alunado e assim poder dar um sentido político e social ao trabalho que
está sendo realizado, pois, como afirma Libâneo, aprender é um ato de
conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo
educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa
realidade, o que está em consonância com o que diz Saviani (1991):
a Pedagogia Crítica implica a clareza dos determinantes sociais da educação, a compreensão do grau em que as contradições da sociedade marcam a educação e, consequentemente, como é preciso se posicionar diante dessas contradições e desenredar a educação das visões ambíguas para perceber claramente qual é a direção que cabe imprimir à questão educacional (p. 103).
Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir de uma posição filosófica definida”. Em seu livro Filosofia da Educação,
o autor discorre sobre a relação existente entre a Pedagogia e a
Filosofia e busca clarificar as perspectivas das relações entre educação
e sociedade. No seu trabalho, Luckesi apresenta três tendências
filosóficas responsáveis por interpretar a função da educação na
sociedade: a Educação Redentora, a Educação Reprodutora e a Educação
Transformadora da sociedade. A primeira é otimista, acredita que a
educação pode exercer domínio sobre a sociedade (pedagogias liberais). A
segunda é pessimista, percebe a educação como sendo apenas reprodutora
de um modelo social vigente, enquanto a terceira tendência assume uma
postura crítica com relação às duas anteriores, indo de encontro tanto
ao “otimismo ilusório” quanto ao “pessimismo imobilizador” (pedagogias
Progressivistas).
Em consonância com estas leituras filosóficas sobre as relações entre
educação e sociedade, Libâneo (1985), ao realizar uma abordagem das
tendências pedagógicas, organiza as diferentes pedagogias em dois
grupos: Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressivista. A Pedagogia
Liberal é apresentada nas formas Tradicional; Renovada Progressivista;
Renovada Não diretiva; e Tecnicista. A Pedagogia Progressivista é
subdividida em Libertadora; Libertária; e Crítico-social dos Conteúdos. O
quadro a seguir apresenta de forma muito simplificada as principais
características de cada tendência pedagógica, seus conteúdos, métodos e
pressupostos de ensino-aprendizagem, assim como seus principais
expoentes e os papéis da escola, do professor e do aluno comuns a cada
uma delas.
Nome da tendência pedagógica | Papel da escola | Conteúdos | Métodos | Professor x Aluno | Aprendizagem | Manifestações |
---|---|---|---|---|---|---|
Tendência Liberal Tradicional | Preparação intelectual e moral dos alunos para assumir seu papel na sociedade. | São conhecimentos e valores sociais acumulados através dos tempos e repassados aos alunos como verdades absolutas. | Exposição e demonstração verbal da matéria e /ou por meio de modelos. | Autoridade do professor que exige atitude receptiva do aluno. | A aprendizagem é receptiva e mecânica, sem se considerar as características próprias de cada idade. | Nas escolas que adotam filosofias humanistas clássicas ou científicas. |
Tendência Liberal Renovada Progressivista | A escola deve adequar as necessidades individuais ao meio social. | Os conteúdos são estabelecidos a partir das experiências vividas pelos alunos frente às situações problema. | Por meio de experiências, pesquisas e método de solução de problemas. | O professor é auxiliador no desenvolvimento livre da criança. | É baseada na motivação e na estimulação de problemas. O aluno aprende fazendo. | Montessori, Decroly, Dewey, Piaget, Cousinet, Lauro de Oliveira Lima. |
Tendência Liberal Renovada Não Diretiva (Escola Nova) | Formação de atitudes. | Baseia-se na busca dos conhecimentos pelos próprios alunos. | Método baseado na facilitação da aprendizagem. | Educação centralizada no aluno; o professor deve garantir um clima de relacionamento pessoal e autêntico, baseado no respeito. | Aprender é modificar as percepções da realidade. | Carl Rogers, "Sumerhill", escola de A. Neill. |
Tendência Liberal Tecnicista | É modeladora do comportamento humano através de técnicas específicas. | São informações ordenadas numa sequência lógica e psicológica. | Procedimentos e técnicas para a transmissão e recepção de informações. | Relação objetiva em que o professor transmite informações e o aluno deve fixá-las. | Aprendizagem baseada no desempenho. | Skinner, Gagné, Bloon, Mager. Leis 5.540/68 e 5.692/71. |
Tendência Progressivista Libertadora | Não atua em escolas, porém visa levar professores e alunos a atingir um nível de consciência da realidade em que vivem na busca da transformação social. | Temas geradores retirados da problematização do cotidiano dos educandos. | Grupos de discussão. | A relação é de igual para igual, horizontalmente. | Valorização da experiência vivida como base da relação educativa. Codificação-decodificação. Resolução da situação problema. | Paulo Freire. |
Tendência Progressivista Libertária | Transformação da personalidade num sentido libertário e autogestionário. | As matérias são colocadas, mas não exigidas. | Vivência grupal na forma de autogestão. | É não diretiva, o professor é orientador e os alunos livres. | Também prima pela valorização da vivência cotidiana. Aprendizagem informal via grupo. | Lobrot, C. Freinet, Miguel Gonzales, Vasquez, Oury, Maurício Tragtenberg, Ferrer y Guardia. |
Tendência Progressivista "Crítico-social dos conteúdos ou histórico-crítica" | Difusão dos conteúdos. | Conteúdos culturais universais que são incorporados pela humanidade frente à realidade social. | O método parte de uma relação direta da experiência do aluno confrontada com o saber sistematizado. | Papel do aluno como participador e do professor como mediador entre o saber e o aluno. | Baseadas nas estruturas cognitivas já estruturadas nos alunos. | Makarenko, B. Charlot, Suchodolski, Manacorda, G. Snyders Demerval Saviani. |
Publicado em 17 de abril de 2012
Roberto Ferreira dos Santos
7º Seminário de Práticas Educativas:
componente curricular do Curso de Licenciatura em Pedagogia da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
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