sexta-feira, 24 de junho de 2016

Como falar sobre sexualidade com as crianças?

Educação sexual é um processo de vida inteira: teremos tempo de melhorar o que não conseguirmos explicar da forma como gostaríamos. Não é fácil para pais que não foram educados desta forma em sua infância, mas o importante é tentar melhorar a educação que possam oferecer a seus filhos. É bom saber que, assumindo ou não a tarefa de orientá-los, conversando ou não, estaremos dando educação sexual. Dependendo da atitude dos pais, as crianças aprendem se sexo é bonito ou feio, certo ou errado, conversável ou não.

Há até bem pouco tempo, dizia-se às crianças que elas teriam vindo trazidas pela cegonha, ou que haviam sido compradas no hospital, ou ainda que teriam brotado de uma flor etc. Hoje, sabemos que não há necessidade de mentir às crianças, mesmo porque elas são muito mais espertas, recebem informações de várias fontes e, portanto, essas “mentirinhas bobas” só servirão para nos desacreditar ante os nossos filhos. Não pode ser considerado feio falar de algo que é natural. O melhor a fazer é falar a verdade, para que possamos mostrar a seriedade do assunto, evitando assim gozações, malícia, palavras de duplo sentido.

Inicialmente, as dúvidas das crianças dizem respeito às diferenças anatômicas entre os sexos e ao nascimento propriamente dito. Elas fazem suas próprias teorias sexuais, hipóteses acerca de como os bebês vão parar nas barrigas de suas mães. Aos poucos, essas teorias vão sendo questionadas e surgem então as dúvidas a respeito de como são produzidos, enfim, os bebês. Desde muito cedo as crianças tomam consciência do seu corpo e das diferenças entre os sexos. É sobretudo entre os 3 e 6 anos que começam a surgir muitas perguntas e regra geral, os pais sentem-se constrangidos hesitando nas respostas a dar... Como falar sobre sexualidade com as crianças?, os pais sentem-se constrangidos hesitando nas respostas a dar.

Cultura versus instinto

Diante de situações carregadas de apelo sexual, muitos pais coíbem o comportamento dos filhos pequenos sem saber exatamente por que estão agindo assim. Mas é importante saber o que está por trás dessa restrição! Desde os primórdios da civilização, a ordem social se impõe aos impulsos instintivos dos indivíduos. A sobrevivência e a supremacia da espécie humana sempre dependeram dessa condição. Sem o freio cultural, muitas vezes estabelecido por religiões, cada um faria o que tivesse vontade e a organização social seria regida pela lei do mais forte, como é entre os bichos, com desvantagens do homem em relação a outros predadores. Portanto, educar o filho significa ensinar-lhe, entre outras coisas, as regras sociais de convivência, sejam elas quais forem. E ficar bolinando a própria genitália em público não é algo aceito em nenhuma sociedade. Renunciar aos desejos é parte do aprendizado social de uma criança.

Sexualidade no bebê de colo

Até cerca de 1 ano e meio ou 2 de idade, o bebê descobre o mundo pela boca. Daí o nome "fase oral", utilizado por muitos especialistas. Mas, nomenclaturas à parte, o importante aqui é entender que sugar o leite da mãe é uma experiência tão prazerosa para o bebê que ela se sobrepõe às demais. Ele mama em um colo aconchegante, sua barriga fica quentinha e o sono logo vem. É um paraíso para a criança. Por isso, ela leva tudo à boca na incansável busca da sensação de prazer. Nessa fase, o prazer é definido exclusivamente pela ação do sistema nervoso. Os hormônios e a libido só entram em cena com a maturação sexual, na adolescência.

Aos 2 anos, o xixi e o cocô

Conforme cresce, o bebê amplia sua capacidade de percepção. Ele começa a entender o mundo simbólico e já pronuncia palavras. Paralelamente, descobre o xixi e o cocô. A criança não sabe direito o que é, mas sente que é muito gostoso. O próprio controle do esfíncter, tanto o anal quanto o genital, mostra-se uma profunda fonte de prazer. É natural que as áreas do corpo onde o bebê sente prazer despertem nele curiosidade. E ele vai mexer sempre que puder, principalmente quando começar a tirar a fralda.

Tratar com naturalidade

Se, para os adultos, a sexualidade já é um tema complexo, imagine para as crianças. Por isso, vá com calma ao lidar com o assunto. A curiosidade de mexer na genitália é natural entre os bebês e deve ser encarada como tal. Mesmo porque a curiosidade é sinal de inteligência. Os pais não devem se desesperar porque sua filha ou seu filho estão se bolinando. Mas também não precisam ficar passivos. No caso dos pequeninos, a melhor maneira de intervir é colocar uma roupinha neles ou levá-los ao banheiro para ver se querem fazer xixi ou cocô, sem alarde. Mas atenção: se perceber que essa situação tira os adultos do sério, a criança pode passar a usá-la apenas para chamar a atenção. O mesmo se aplica a segurar o xixi e o cocô.

Quanto mais velho, mais curiosos

A partir dos 3 ou 4 anos, a criança controla bem o esfíncter e já desenvolveu bastante sua linguagem. E sua relação com o mundo só faz se expandir. Mas a curiosidade continua a mil por hora. Os pequenos começam a sacar as diferenças entre meninos e meninas, já percebem algo estranho nas histórias sobre como nasceram, notam que o papai e a mamãe dormem juntos, querem entender melhor esse negócio de gravidez e sementinha e por aí vai. Isso também é natural e pode ser uma excelente oportunidade para o início das conversas sobre sexualidade com um filho. Vale a pena falar sobre os estranhamentos, sem a necessidade de explicar detalhes. As noções gerais são mais que suficientes. Isso pode ajudar esse futuro adolescente a lidar melhor com sua própria sexualidade. A imaginação deles também pode ser uma ótima aliada diante de questões mais embaraçosas. Jogue questões para que eles tentem elaborar sozinhos.

Limites sem trauma

A curiosidade das crianças em relação ao sexo aumenta conforme se desenvolvem. Em busca do prazer, o menino gosta de deixar o pipi duro e a menina adora segurar o xixi ou cutucar a vagininha. Bater na mão da criança e dizer que isso é feio está longe de ser a melhor conduta. Funciona, mas pode deixar traumas desnecessários. A criança se assusta e intuitivamente repele de sua vida a busca por esse tipo de sensação. Além disso, o assunto vira algo proibido e dá margem para tabus e preconceitos no futuro. Levar a criança para o banheiro para fazer xixi ou cocô ainda é a melhor maneira de mostrar que lá é o lugar de mexer nas partes íntimas e também de desviar o foco de atenção. Quando volta do banheiro, ela se esquece de se tocar. Agora, se o pequeno insiste em se masturbar na frente de todos, mesmo que não saiba exatamente o que está fazendo, ele precisa saber que o papai e a mamãe vão ficar tristes se continuar, de preferência com uma conversa mais séria, que faça a criança também pensar, e não simplesmente obedecer.

Erotismo familiar

Desde pequena, a criança sente o que acontece à sua volta. Expor os pequenos aos estímulos de um ato sexual, por exemplo, vai despertar neles ainda mais a curiosidade, já que o coito tem características bastante peculiares: os sons, o cheiro, as imagens... O mesmo vale para o banho, principalmente dos meninos com a mamãe e das meninas com o papai, ou entre crianças de sexos diferentes. Não existe um consenso em relação a isso, mas esse tipo de intimidade pode potencializar a curiosidade sexual dos filhos. Dormir com a criança também gera um clima de excitação nos adultos e nas crianças, além de atrapalhar a intimidade do casal. Convém evitar esse tipo de conduta para não dar a impressão à criança de que a intimidade é algo que se compartilha com todos.

Prazer além do corpo

Já que a criança não poderá extravasar todo o seu prazer pelo corpo, é importante dar a ela opções. E um excelente caminho é proporcionar, aos pequenos, o chamado prazer social. Eles nem terão tempo de ficar se bolinando enquanto brincam, aprendem coisas novas, deixam o papai e a mamãe orgulhosos, praticam atividades lúdicas e recebem carinho e atenção. Por esse motivo, é tão importante a mãe conversar com o filho desde a barriga e intensificar os "diálogos" logo depois do nascimento. Essa troca desperta nele o prazer pela comunicação. A masturbação pode ser um indício de que a vida não está boa para uma criança. Tanto que crianças excepcionais, também pela dificuldade de interação com o mundo exterior, costumam exagerar no prazer solitário. E muitas não têm sequer noção dos limites que envolvem a conduta sexual. 

Os comportamentos de fuga dos pais, silêncio ou respostas pouco claras levam as crianças a formular ideias erradas sobre: o seu corpo, a relação entre os sexos e a partilha de afectos, sendo estes aspectos fundamentais para um desenvolvimento saudável. As crianças esperam compreensão, aceitação e são por natureza curiosas. Perante isto, cabe aos pais satisfazer a curiosidade dos filhos reconhecendo as suas questões e os seus comportamentos como normais e saudáveis.

Está comprovado que quando os pais respondem aos filhos com explicações simples e exactas, utilizando os nomes corretos, os filhos sentem-se seguros e confiam nos pais.


Dicas para os pais/educadores:
  • Dialogar de forma sincera e natural
  • Evitar fugir ao assunto ou dar respostas fantasiadas (por exemplo: a cegonha traz os filhos)
  • Responder às perguntas à medida que vão surgindo (as crianças não estão à espera de explicações complexas apenas uma resposta à sua pergunta)
  • Deixar as crianças falarem sobre os assuntos que despertam seu interesse
  • Assumir uma atitude natural sem crítica nem constrangimento
  • Evitar transmitir à criança o sentimento de vergonha ou timidez ao falar de seus sentimentos
  • Quando surgir uma pergunta num momento complicado uma resposta possível poderá ser: “Essa é uma boa pergunta - falamos sobre ela mais tarde?”
  • Fomentar a confiança nos filhos (ajuda-os a sentirem-se seguros e felizes)
  • Explicar as diferenças corporais entre os sexos dando o nome correcto aos órgãos e usar imagens simples para crianças
  • Explicar as mudanças que acontecem com o crescimento (mudanças corporais, menstruação, erecção, gravidez, parto)
  • Explicar que os adultos quando responsáveis e preparados têm filhos
  • Transmitir a noção de que somos irrepetíveis, diferentes e por isso especiais
  • Conversar sobre as manifestações de amor (beijo, abraço, andar de mão dada, o sentimento de se estar apaixonado)
  • Educar para o respeito pelo próprio e pelos outros
  • Educar para os afectos (carinho, amizade, amor)

Não esquecer que:
  “Dar informação não significa incitar à atividade sexual, mas apenas aprender a refletir sobre ela, a conhecer-se e a respeitar-se a si mesmo e a respeitar os outros. Em conclusão, significa formar pessoas sãs e responsáveis” (Morfa et al 2005, p. 5)*

 Ao final desta exposição, talvez vocês percebam que poderiam ter feito melhor pela educação sexual de seus filhos, ou evitado algumas bobagens. Não devemos nos culpar por isto. Não nascemos sabendo e somos frutos da educação que tivemos. Assim como nossos pais, certamente fazemos o melhor que somos capazes, e será muito bom que possamos ter a oportunidade de repensar algumas situações e atitudes.

fontes:



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