Educação sexual é um processo de vida inteira: teremos tempo de
melhorar o que não conseguirmos explicar da forma como gostaríamos. Não é
fácil para pais que não foram educados desta forma em sua infância, mas
o importante é tentar melhorar a educação que possam oferecer a seus
filhos. É bom saber que, assumindo ou não a tarefa de orientá-los,
conversando ou não, estaremos dando educação sexual. Dependendo da
atitude dos pais, as crianças aprendem se sexo é bonito ou feio, certo
ou errado, conversável ou não.
Há até bem pouco tempo, dizia-se às crianças que elas teriam vindo
trazidas pela cegonha, ou que haviam sido compradas no hospital, ou
ainda que teriam brotado de uma flor etc. Hoje, sabemos que não há
necessidade de mentir às crianças, mesmo porque elas são muito mais
espertas, recebem informações de várias fontes e, portanto, essas
“mentirinhas bobas” só servirão para nos desacreditar ante os nossos
filhos. Não pode ser considerado feio falar de algo que é natural. O
melhor a fazer é falar a verdade, para que possamos mostrar a seriedade
do assunto, evitando assim gozações, malícia, palavras de duplo sentido.
Inicialmente, as dúvidas das crianças dizem respeito às diferenças
anatômicas entre os sexos e ao nascimento propriamente dito. Elas fazem
suas próprias teorias sexuais, hipóteses acerca de como os bebês vão
parar nas barrigas de suas mães. Aos poucos, essas teorias vão sendo
questionadas e surgem então as dúvidas a respeito de como são
produzidos, enfim, os bebês. Desde muito cedo as crianças tomam consciência do seu corpo e das
diferenças entre os sexos. É sobretudo entre os 3 e 6 anos que começam a
surgir muitas perguntas e regra geral, os pais sentem-se constrangidos
hesitando nas respostas a dar... Como falar sobre sexualidade com as
crianças?, os pais sentem-se constrangidos hesitando nas respostas a dar.
Cultura versus instinto
Diante de situações carregadas de apelo sexual, muitos pais coíbem o
comportamento dos filhos pequenos sem saber exatamente por que estão
agindo assim. Mas é importante saber o que está por trás dessa
restrição! Desde os primórdios da civilização, a ordem social se impõe
aos impulsos instintivos dos indivíduos. A sobrevivência e a supremacia
da espécie humana sempre dependeram dessa condição. Sem o freio
cultural, muitas vezes estabelecido por religiões, cada um faria o que
tivesse vontade e a organização social seria regida pela lei do mais
forte, como é entre os bichos, com desvantagens do homem em relação a
outros predadores. Portanto, educar o filho significa ensinar-lhe, entre
outras coisas, as regras sociais de convivência, sejam elas quais
forem. E ficar bolinando a própria genitália em público não é algo
aceito em nenhuma sociedade. Renunciar aos desejos é parte do
aprendizado social de uma criança.
Sexualidade no bebê de colo
Até cerca de 1 ano e meio ou 2 de idade, o bebê descobre o mundo pela boca. Daí o nome "fase oral",
utilizado por muitos especialistas. Mas, nomenclaturas à parte, o
importante aqui é entender que sugar o leite da mãe é uma experiência
tão prazerosa para o bebê que ela se sobrepõe às demais. Ele mama em um
colo aconchegante, sua barriga fica quentinha e o sono logo vem. É um
paraíso para a criança. Por isso, ela leva tudo à boca na incansável
busca da sensação de prazer. Nessa fase, o prazer é definido
exclusivamente pela ação do sistema nervoso. Os hormônios e a libido só
entram em cena com a maturação sexual, na adolescência.
Aos 2 anos, o xixi e o cocô
Conforme cresce, o bebê amplia sua capacidade de percepção. Ele
começa a entender o mundo simbólico e já pronuncia palavras.
Paralelamente, descobre o xixi e o cocô. A criança não sabe direito o
que é, mas sente que é muito gostoso. O próprio controle do esfíncter,
tanto o anal quanto o genital, mostra-se uma profunda fonte de prazer. É
natural que as áreas do corpo onde o bebê sente prazer despertem nele
curiosidade. E ele vai mexer sempre que puder, principalmente quando
começar a tirar a fralda.
Tratar com naturalidade
Se, para os adultos, a sexualidade já é um tema complexo, imagine
para as crianças. Por isso, vá com calma ao lidar com o assunto. A
curiosidade de mexer na genitália é natural entre os bebês e deve ser
encarada como tal. Mesmo porque a curiosidade é sinal de inteligência.
Os pais não devem se desesperar porque sua filha ou seu filho estão se
bolinando. Mas também não precisam ficar passivos. No caso dos
pequeninos, a melhor maneira de intervir é colocar uma roupinha neles ou
levá-los ao banheiro para ver se querem fazer xixi ou cocô, sem alarde.
Mas atenção: se perceber que essa situação tira os adultos do sério, a
criança pode passar a usá-la apenas para chamar a atenção. O mesmo se
aplica a segurar o xixi e o cocô.
Quanto mais velho, mais curiosos
A partir dos 3 ou 4 anos, a criança controla bem o esfíncter e já
desenvolveu bastante sua linguagem. E sua relação com o mundo só faz se
expandir. Mas a curiosidade continua a mil por hora. Os pequenos começam
a sacar as diferenças entre meninos e meninas, já percebem algo
estranho nas histórias sobre como nasceram, notam que o papai e a mamãe
dormem juntos, querem entender melhor esse negócio de gravidez e
sementinha e por aí vai. Isso também é natural e pode ser uma excelente
oportunidade para o início das conversas sobre sexualidade com um filho.
Vale a pena falar sobre os estranhamentos, sem a necessidade de
explicar detalhes. As noções gerais são mais que suficientes. Isso pode
ajudar esse futuro adolescente a lidar melhor com sua própria
sexualidade. A imaginação deles também pode ser uma ótima aliada diante
de questões mais embaraçosas. Jogue questões para que eles tentem
elaborar sozinhos.
Limites sem trauma
A curiosidade das crianças em relação ao sexo aumenta conforme se
desenvolvem. Em busca do prazer, o menino gosta de deixar o pipi duro e a
menina adora segurar o xixi ou cutucar a vagininha. Bater na mão da
criança e dizer que isso é feio está longe de ser a melhor conduta.
Funciona, mas pode deixar traumas desnecessários. A criança se assusta e
intuitivamente repele de sua vida a busca por esse tipo de sensação.
Além disso, o assunto vira algo proibido e dá margem para tabus e
preconceitos no futuro. Levar a criança para o banheiro para fazer xixi
ou cocô ainda é a melhor maneira de mostrar que lá é o lugar de mexer
nas partes íntimas e também de desviar o foco de atenção. Quando volta
do banheiro, ela se esquece de se tocar. Agora, se o pequeno insiste em
se masturbar na frente de todos, mesmo que não saiba exatamente o que
está fazendo, ele precisa saber que o papai e a mamãe vão ficar tristes
se continuar, de preferência com uma conversa mais séria, que faça a
criança também pensar, e não simplesmente obedecer.
Erotismo familiar
Desde pequena, a criança sente o que acontece à sua volta. Expor os
pequenos aos estímulos de um ato sexual, por exemplo, vai despertar
neles ainda mais a curiosidade, já que o coito tem características
bastante peculiares: os sons, o cheiro, as imagens... O mesmo vale para o
banho, principalmente dos meninos com a mamãe e das meninas com o
papai, ou entre crianças de sexos diferentes. Não existe um consenso em
relação a isso, mas esse tipo de intimidade pode potencializar a
curiosidade sexual dos filhos. Dormir com a criança também gera um clima
de excitação nos adultos e nas crianças, além de atrapalhar a
intimidade do casal. Convém evitar esse tipo de conduta para não dar a
impressão à criança de que a intimidade é algo que se compartilha com
todos.
Prazer além do corpo
Já que a criança não poderá extravasar todo o seu prazer pelo corpo, é
importante dar a ela opções. E um excelente caminho é proporcionar, aos
pequenos, o chamado prazer social. Eles nem terão tempo de ficar se
bolinando enquanto brincam, aprendem coisas novas, deixam o papai e a
mamãe orgulhosos, praticam atividades lúdicas e recebem carinho e
atenção. Por esse motivo, é tão importante a mãe conversar com o filho
desde a barriga e intensificar os "diálogos"
logo depois do nascimento. Essa troca desperta nele o prazer pela
comunicação. A masturbação pode ser um indício de que a vida não está
boa para uma criança. Tanto que crianças excepcionais, também pela
dificuldade de interação com o mundo exterior, costumam exagerar no
prazer solitário. E muitas não têm sequer noção dos limites que envolvem
a conduta sexual.
Os comportamentos de fuga dos pais, silêncio ou respostas pouco claras levam as crianças a formular ideias erradas sobre: o seu corpo, a relação entre os sexos e a partilha de afectos, sendo estes aspectos fundamentais para um desenvolvimento saudável. As crianças esperam compreensão,
aceitação e são por natureza curiosas. Perante isto, cabe aos pais
satisfazer a curiosidade dos filhos reconhecendo as suas questões e os
seus comportamentos como normais e saudáveis.
Está comprovado que quando os pais
respondem aos filhos com explicações simples e exactas, utilizando os
nomes corretos, os filhos sentem-se seguros e confiam nos pais.
Dicas para os pais/educadores:
- Dialogar de forma sincera e natural
- Evitar fugir ao assunto ou dar respostas fantasiadas (por exemplo: a cegonha traz os filhos)
- Responder às perguntas à medida que vão surgindo (as crianças não estão à espera de explicações complexas apenas uma resposta à sua pergunta)
- Deixar as crianças falarem sobre os assuntos que despertam seu interesse
- Assumir uma atitude natural sem crítica nem constrangimento
- Evitar transmitir à criança o sentimento de vergonha ou timidez ao falar de seus sentimentos
- Quando surgir uma pergunta num momento complicado uma resposta possível poderá ser: “Essa é uma boa pergunta - falamos sobre ela mais tarde?”
- Fomentar a confiança nos filhos (ajuda-os a sentirem-se seguros e felizes)
- Explicar as diferenças corporais entre os sexos dando o nome correcto aos órgãos e usar imagens simples para crianças
- Explicar as mudanças que acontecem com o crescimento (mudanças corporais, menstruação, erecção, gravidez, parto)
- Explicar que os adultos quando responsáveis e preparados têm filhos
- Transmitir a noção de que somos irrepetíveis, diferentes e por isso especiais
- Conversar sobre as manifestações de amor (beijo, abraço, andar de mão dada, o sentimento de se estar apaixonado)
- Educar para o respeito pelo próprio e pelos outros
- Educar para os afectos (carinho, amizade, amor)
Não esquecer que:
“Dar informação não significa incitar à atividade sexual,
mas apenas aprender a refletir sobre ela, a conhecer-se e a
respeitar-se a si mesmo e a respeitar os outros. Em conclusão, significa formar pessoas sãs e responsáveis” (Morfa et al 2005, p. 5)*
Ao final desta exposição, talvez vocês percebam que poderiam ter feito
melhor pela educação sexual de seus filhos, ou evitado algumas bobagens.
Não devemos nos culpar por isto. Não nascemos sabendo e somos frutos da
educação que tivemos. Assim como nossos pais, certamente fazemos o
melhor que somos capazes, e será muito bom que possamos ter a
oportunidade de repensar algumas situações e atitudes.
fontes:
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